terça-feira, dezembro 21, 2010

Chamada, transformação e comissão

Marcos 1:17.
Queria resumir a mensagem que emana deste versículo em três partes. Cada uma delas representa um aspecto importante na vida de um filho de Deus. «Vinde após mim...» (a chamada). «...e farei...» (o processo de santificação); e, «...que sejais pescadores de homens» (a comissão). Então temos: primeiro, a chamada, em seguida a santificação ou processo de transformação, e por último a comissão, quer dizer, o serviço. Estes três aspectos resumem a vida de um discípulo de Jesus Cristo.

O chamamento supremo
Vejamos o primeiro. Marcos 3:13 diz que o Senhor chamou discípulos para si. No momento em que o Senhor decidiu escolher dentre a multidão a alguns para que lhe seguissem, o fez de uma maneira muito clara quanto ao objetivo dessa chamada, que foi para si. Quer dizer, para Ele. Aqui se revela a essência do chamamento de Deus. Este é o primeiro e supremo chamamento para quem é discípulo de Jesus Cristo.
O versículo diz: «Depois subiu ao monte, e chamou para si aos que ele quis; e vieram para ele». Verso 14: «E estabeleceu a doze, para que estivessem com ele, e para enviá-los a pregar». Outra vez, vemos estes três grandes aspectos, o chamamento, «…chamou para si»; a santificação, «para estar com ele»; e a comissão, «…para enviá-los a pregar».
Irmãos, o chamamento de Deus é para conhecer a Jesus Cristo. Não existe outro objetivo no coração de Deus do que o que nos revelou no Filho. Jesus Cristo é o ponto de referência da vida cristã para o qual caminhamos. Certamente, Ele não é um conteúdo a alcançar, um conceito a compreender, um conhecimento a raciocinar, ou um livro a esquadrinhar. Jesus Cristo é a vida eterna manifestada; é Deus manifestado em carne, como está escrito. «No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus» (João 1:1). «E aquele Verbo foi feito carne…» (Jo. 1:14) Deus se revelou em seu Filho!
O apóstolo João aprofunda esta verdade, e em suas cartas nos diz que: «O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos, e as nossas mãos apalparam com respeito ao Verbo de vida (porque a vida foi manifestada, e a vimos, e testificamos, e vos anunciamos a vida eterna, a qual estava com o Pai, e se nos manifestou); o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos» (1a João).
Aqui encontramos que a revelação de Deus se dá em uma íntima comunhão. Aquilo que era no princípio, a comunhão do Pai, o Filho e o Espírito, o que os teólogos chamam de Trindade, manifestou-se. Quer dizer, se nos manifestou, para ser conhecido por nós, o conselho divino que participou ativamente na criação; a relação do Pai e do Filho que estava na eternidade, como uma relação terna de amor, de aceitação mútua, de admiração mútua, que não tem princípio nem fim. Porque nele, Cristo, habita toda a plenitude da divindade. Por isso que o chamamento é para conhecer a Jesus Cristo.
João 17:3 diz: «E esta é a vida eterna: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem tens enviado». Esta é a vida eterna que recebemos, e que nos foi anunciada: conhecer o Pai e conhecer o Filho. Conhecer pelo Espírito a comunhão que estava na eternidade e que hoje nos tem chegado no Filho.

Nossa incapacidade e a ação do Espírito
Nossa mente não alcança para captar em toda a sua magnitude isto que nos foi anunciado. A nossa limitação é evidente. Por isso a Bíblia o chama «o mistério escondido», não só pelo fato de ter estado encoberto à nossa compreensão por tanto tempo, mas também por sua profundidade e plenitude. Pois bem, Deus, que conhece a nossa realidade e impossibilidade de lhe conhecer, deu-nos por seu Espírito a oportunidade de ser conhecido. Hoje foi aberta a compreensão do mistério de Deus pelo Espírito. Ele mesmo se encarregou de resolver o nosso dilema, e mais ainda, fez-nos participantes dessa mesma comunhão. Quer dizer, não só podemos conhecer e contemplar ao Pai e ao Filho por meio dele, mas também ser parte dessa mesma unidade. Como diz o Filho: «...para que todos sejam um; como tu, Oh Pai, em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós» (João 17:21).
Irmãos, o Pai está em nós, o Filho está em nós, o Espírito está em nós. Esta comunhão que se construiu entre nós, é a comunhão do Pai e do Filho; é a comunhão divina que está no meio de nós. Por isso, o chamamento é para centrarmos nele. O Pai ama ao Filho eternamente, e eternamente lhe amará. E criou, por meio dele e para ele, todo o universo. Tudo o que existente, visível, e invisível, é para o Filho do seu amor, Jesus Cristo. O Pai quis que os olhos de todo o universo estivessem centrados na pessoa de Jesus Cristo. Por isso nos chama para estar com ele.

Conseqüências de não olharmos para Jesus
A intenção de Deus o Pai é que centremos nossos olhos nele; porque senão, nossa situação nos leva a pô-los em nós mesmos, que é o oposto ao desejo de Deus. E o oposto à intenção de Deus sempre é obra de Satanás, pois este não tem os seus olhos posto nas coisas de Deus. Como bem disse o Senhor: «Aparta-te de diante de mim, Satanás, porque não põe os olhos nas coisas de Deus, mas nas dos homens» (Mar. 8:33).
Assim que o evangelho é a boa notícia de Deus, que nos livrou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do seu Filho amado. Portanto, nós necessitamos do evangelho. Porque o evangelho nos tira de nós mesmos, tira-nos de nosso ensimesmamento. Quanto do pecado é conseqüência de termos tirado os nossos olhos do Senhor? E quando fazemos isto, o que surge de nós? O mal. Por isso, o chamado é para pôr os olhos nas coisas de cima, onde Cristo está assentado à mão direita do Pai.
Os querubins e serafins têm olhos por todos os lados, porque são seres criados para lhe adorar e lhe contemplar, para estar permanentemente atendendo ao Filho, o louvando com todos os seus olhos centrados nele. Deus o Pai deseja em seu coração que tudo o que foi criado observe e contemple a Jesus. É o convite de Deus, é o desejo de Deus e do Espírito Santo que está dentro de ti, de pôr os seus olhos no Filho. O Espírito não descansa, mas trabalha dia e noite em função do Filho. O Espírito sempre está disposto, como dizendo: «Sim, Pai, vou ajudar… vou trabalhar em função do Filho… o farei com cada filho teu… para que os seus olhos se abram e vejam a glória de Deus».
Uma grande parte dos nossos transtornos afetivos se deve que a nossa atenção, nossa dor, nossa emoção, estão centradas em nós. Que terrível! Somos escravos das nossas próprias dores, e isto nos perturba. Mas, o que verdadeiramente nos perturba é a interpretação que damos a essas coisas, pois temos toda a nossa atenção em nós, e muitas vezes estamos em um círculo vicioso, com a atenção posta onde não devemos.

Transformados a sua imagem
Vejamos Mateus 17:1-2 e 5. «Seis dias depois, Jesus tomou a Pedro, a Tiago e a João seu irmão, e os levou aparte a um alto monte; e se transfigurou diante deles, e resplandeceu o seu rosto como o sol, e seus vestidos se fizeram brancos como a luz... Enquanto ele ainda falava, uma nuvem de luz os cobriu; e eis que uma voz da nuvem, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem tenho complacência; a ele ouvi».
E também 2a Coríntios 3:18: «portanto, nós todos, olhando o rosto descoberto como em um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor».
Há uma palavra que une estas duas passagens, e que tem estreita relação com o que estamos falando. É a palavra «metamorfose», que significa mudança de forma. Em Mateus, a expressão grega se traduz «e se transfigurou». Paulo diz: «somos transformados».
Unindo estas duas passagens, a exortação apostólica nos ensina que, pondo os nossos olhos em Jesus Cristo, nós somos «transfigurados» à mesma imagem que contemplamos. Mudamos da nossa forma, para a forma que os nossos olhos contemplam. Nós seremos transformados naquilo que contemplamos.
E lemos também 2ª Coríntios 4:6: «Porque Deus, que mandou que das trevas resplandecesse a luz, é o que resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo».
A segunda parte é do versículo inicial que lemos em Marcos que diz: «e (eu) vos farei que sejais...». Quer dizer, o Senhor é quem transforma. O próprio Deus, em Cristo, encarrega-se de nos transformar na sua imagem. Esta transformação, transfiguração ou mudança de forma, o próprio Senhor é quem realiza por seu Espírito.
Portanto, cada um de nós –pequeninhos, disformes como somos–, olhando para Jesus Cristo, somos transfigurados, transformados, de glória em glória, como o efeito de um espelho, à mesma glória que vemos e contemplamos. Irmãos, isto é o que ocorre quando pomos a nossa atenção em Jesus.

O propósito do evangelho
Deus, em Cristo, cumpriu o seu propósito de ter muitos filhos. O Filho, por outro lado, trabalhou para isso. Como está escrito: –»Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho»–, e em seguida na cruz disse: «Tudo está consumado». Desta maneira, Deus se proveu de uma família de muitos filhos semelhantes a Jesus, «para que ele seja o primogênito –o principal– entre muitos irmãos» (Rom. 8:29). Esta é a chamada, e no processo pelo qual estamos. Tudo aponta para o Filho. Se não entendermos isto, a pregação, e todo o resto são vãos.
No evangelho houve uma mulher que tomou um vaso de alabastro de perfume de nardo puro muito caro, e quebrando-o, derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Todos ao redor pensaram: ‘Quanto dinheiro foi esbanjado nisto’. Então o Senhor disse: «Em verdade vos digo que em qualquer lugar que se pregue este evangelho, em todo o mundo, também se contará o que esta tem feito, para memória dela» (Mar. 14:9). O que o Senhor disse foi por causa dela? Ou foi por causa de que esta ação representa o que é o evangelho? Onde quer que se pregue o evangelho necessariamente irá se contar o que esta mulher fez. Porque o evangelho abre os olhos para ver a Jesus e depois de abrir faz com que o coração seja derramado diante de quem é o centro da atenção do Universo.

Pescadores de homens
Então, recapitulando, podemos dizer que: «Vinde após mim», é o chamado para conhecer a Jesus Cristo. «E vos farei...», é a nossa transfiguração na sua imagem como conseqüência disso. Por último, analisaremos: «...que sejais pescadores de homens».
Isto é a comissão e o serviço. De tudo o que vimos anteriormente é que emana o fato de que o Senhor nos faça algo útil em suas mãos. Deus quer que todos os homens lhe conheçam. Para isto constitui e comissiona a homens transformados por seu poder para serem «pescadores de homens». Dá-nos um sentido de serviço e amor pelo que ele ama.
E aqui há um assunto importante para tratar. Quando alguém percorre as igrejas e compartilha com irmãos de distintos lugares, podemos notar a pouca importância que damos a este assunto. A realidade é que não compartilhamos o Senhor como se deve, não fomos testemunhas da verdade, quanto menos pescadores de homens. E ocorre um fenômeno triste, as igrejas locais não crescem numericamente, e não se renovam. E quando a igreja local não se renova, começa a centrar a atenção nela mesma, e tudo se torna monótono e chato.
Vocês conhecem a alegria que provoca a chegada de pessoas novas na igreja? Quando chegam irmãos novos, que logo estão aprendendo os rudimentos do evangelho surge espontaneamente o serviço e os dons operam. Mas, quando uma igreja não se renova, não tem a comissão de pescar homens, vai ensimesmando e surgem problemas que estancam o processo de crescimento, o que traz muita tristeza.
Há irmãos que deixaram de falar de Jesus Cristo aos seus amigos e parentes, aos seus colegas de trabalho, aos seus vizinhos. E esta é uma conseqüência direta de ter uma relação tediosa com o Senhor. Nós devemos ter em cada localidade um testemunho fresco; uma visão renovada do Senhor, pois do contrário vai ocorrendo um efeito não desejado pelo Espírito de Deus. Então a igreja local não tem nada do qual testificar, e centra a atenção em formas, em questões que não são saudáveis ao espírito. Temos que meditar nisto. Tem algo para comunicar de Jesus Cristo? Então fala de Jesus Cristo! Seja um pescador de homens!

Uma questão de amor
Irmãos, esta é uma palavra muito simples; ou melhor, um lembrete. Ser pescadores de homens não é um dever, é o produto de uma transformação, é uma questão de amor.
Termino com uma passagem em Cantar dos Cantares 7:10-12. A igreja dizendo ao Senhor: «Eu sou do meu amado, e comigo tem o seu contentamento». Então, a amada agora diz isto: «Vem, Oh amado meu, saiamos ao campo, moremos nas aldeias. Levantemo-nos de manhã para ir às vinhas; vejamos se brotaram as vides, se estão em floração, se tem florescido as romãzeiras; ali te darei os meus amores». Do versículo 10 em diante, a amada fala no plural. Até aí só era no singular, mas agora, depois de uma relação mais profunda, diz: «Amado, saiamos; mostremos ao mundo o nosso amor, a nossa comunhão. Vamos morar nas aldeias. Saiamos de manhã».É a igreja que sai para falar do amor do seu Amado. Mas não o faz sozinha. O faz em uma relação de amor com o Senhor, que sai para ser divulgada, para ser mostrada, e não fica só na intimidade, olhando para si. Agora, é um sair para fora sem ter nada do que se envergonhar. Sair para mostrar este amor, para mostrar ao mundo o nosso Amado.
E como diz o último versículo do evangelho de Marcos: «E eles, saindo, pregaram por toda parte, ajudando-lhes o Senhor e confirmando a palavra com os sinais que o seguiam». Que linda é esta expressão: «...ajudando-lhes o Senhor». A igreja e o Senhor juntos, comprometidos, nas aldeias, nas cidades e nos campos.
  Comprometamo-nos diante do Senhor, como uma comissão dada pelo Espírito, não pela lei, para que testifiquemos a um número real de pessoas na semana, no mês, e no ano todo. Irmãos, o Espírito estará disposto a isso. A presença do Senhor estará comprometida nesta decisão. É o desejo de Deus pregar o evangelho. A pregação é tão transcendente que implica o começo da obra de Deus e também a sua culminação, porque está escrito «...e será pregado este evangelho do reino em todo mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim» O Senhor nos ajude.

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